Monte Carmelo e a maquiagem do atraso. 6e1b5o
Ozimpio Dias de Sousa
A eleição de Ricardo Ferreira como próximo prefeito de Monte Carmelo tem sido propagandeada pelo grupo político do atual prefeito Paulo Rocha e por seus apoiadores como uma consagração do atual mandatário municipal. Muitos apoiadores do grupo de Guilherme Ghelli, Wilson Dornelas e agora de Dr Gilson (vice-prefeito eleito) fazem planos para uma longa permanência no poder que, confiam, irá muito além de 2028.
Esta confiança pode ar a ideia de que tudo vai bem nas terras carmelitanas, que a maioria do povo está feliz e que não há motivos para nenhuma preocupação, mas basta um olhar apurado sobre os números da última eleição e sobre os indicadores oficiais nas áreas de saúde, educação e bem-estar social do município para constatar que a realidade carmelitana, sem os filtros do Instagram, não é tão bonita.
O Ranking de Eficiência dos Municípios deste ano traz Monte Carmelo na posição 241º, atrás de cidades com renda menor e realidades muito mais difíceis do que a nossa. Santa Cruz e Jardim do Cedro, no sertão do Rio Grande do Norte, estão entre as 20 cidades mais eficientes e possuem vários indicadores de cuidado com a população melhores do que os do nosso município.
Na área da saúde, conseguimos construir um hospital municipal (mérito de vários prefeitos), mas não contratamos médicos e profissionais suficientes para sustentar o atendimento no hospital e nas demais unidades. Patrocínio e Araguari, por exemplo, investem menos dinheiro na saúde (30% em média) e têm muito mais médicos por 1000 habitantes do que Monte Carmelo, que investe 35% da sua receita na saúde e tem apenas 1,71 médicos para cada 1000 habitantes. Patrocínio tem 55% mais médicos por 1000 habitantes do que Monte Carmelo. Índices terríveis como o da mortalidade infantil voltaram a subir.
Na educação, as notas na prova SAEB em português e matemática no índice IDEB vêm piorando ano a ano no município e acelerou a piora de 2019 até agora. A cidade investe apenas 21% da receita em educação, enquanto municípios com bons índices investem em média 30%. A istração municipal possui escolas inacabadas, tem apenas 38,81% das crianças de 0 a 3 anos em creche (número vergonhoso), não paga o piso nacional para todos os professores e não consegue bater a meta de matrículas na pré-escola.
Nos últimos 20 anos, Monte Carmelo saiu de uma economia extremamente dependente das indústrias cerâmicas e se tornou uma economia diversificada, alavancada principalmente pelo agronegócio que se modernizou e enriqueceu, impulsionando o comércio e o setor de prestação de serviços. Entretanto, o avanço econômico (com enorme aumento da arrecadação para os cofres públicos) não produziu oportunidades para distribuição de riquezas, não atraiu indústrias, sobretudo as ligadas à inovação e tecnologia, e por consequência gerou muito poucas vagas de emprego qualificadas e melhor remuneradas. Nossos jovens estão melhor preparados nas nossas faculdades e universidades, mas só encontram vagas de baixa qualificação e baixíssimo salário.
O futuro prefeito não deve ter a vida fácil que Paulo Rocha viveu em um governo praticamente sem oposição. Ricardo Ferreira teve 13.283 votos, já os votos dos seus adversários somados à altíssima abstenção mais os brancos e nulos totalizaram 23.182 votos, ou seja, quase dois em cada três carmelitanos aptos não o escolheram. Diante das inúmeras promessas e dos acordos feitos por sua campanha, Ricardo terá que enfrentar uma oposição estruturada, uma câmara de vereadores renovada e uma enorme faixa da população que não tolerará mais quatro anos com reformas de praças servindo de maquiagem para esconder o atraso.
Fontes dos números: REM-F e QEDU.ORG.
*O carmelitano Ozimpio Dias de Sousa é assessor especial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços em Brasília-DF.
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